quarta-feira, julho 22, 2009

Há quem diga...

Há quem diga que sem amigos não se vive...
Há quem diga que sem religião não se vive...
Há quem diga que sem amores não se vive...

O coração finge sentir o que ainda nem pronto está para sentir. Sente-se obrigado a abdicar de corações mais pequenos e mais frágeis, que os junta na tentativa de várias tendências compostas fora dele mesmo. Imagina situações de irrealidade e que ainda não houve tempo para acontecer, para nos manter preparados para o que vir a acontecer. Fala mal e critica de forma destrutiva tudo o que lhe é diferente e indiferente. Até ao dia em que se apercebe de que aquilo que passou a vida a fazer, já não é mais do que uma auto destruição.

Que deixem falar os corações de todas as destruições e doenças apanhadas pelo ar e toques suaves. Deixem esses corações falar e dizer-me bem alto mesmo perto do ouvido, tapando o outro, e abrindo a minha mente, que me digam as coisas boas que poderei vir a sentir e as más coisas que poderei vir a evidenciar. O amor é cego e eu estou a metade de ficar como ele. Sei que as coisas não ficam como esperamos e permanecem felizes como sempre quisemos. E sei também que por muitas desilusões que tive na vida, nenhuma será maior do que saber que o mundo que vejo hoje, um dia já não será visto. Essa será a minha maior desilusão. Por muito que o amor me cause apertos de coração, ataques de ansiedade, de nervos, de depressão, sei que nem sempre terei de sofrer de tal maneira para receber um sorriso e um abraçado do tamanho da minha imaginação...

Aguardo sempre por alguém...
Há quem diga...?! Deixa dizer...!!

quinta-feira, julho 09, 2009

Perdendo o naturalismo

Cresci a tempo inteiro, com pessoas que muitas dizem estar a ser mal vivido. Os pais, não deveriam ser amigos, deveriam ser apenas pais. Para mim, e parte da minha vida, sempre os considerei como pais, não amigos. Porque amigos sempre foram e nunca muda o que sinto por eles. São meus amigos e pais ao mesmo tempo. É estranho dizer isto, mas... É com grande satisfação que digo, que tenho orgulho em ter os pais que tenho. É como um milagre. Cada pessoa. Não poderia sair outra pessoa, a não ser eu. E aquilo que fizeram para que eu me torna-se alguém na vida. Alguém valioso... Mas isso... Isso já o sou desde que o amor lhes bateu à porta no coração deles os dois.

O mínimo que faz o que sou, é/foi devido aos meus pais. A maioria, são amigos (da net), e a relação que tenho para comigo mesmo. Sou amigo de mim mesmo. E os meus pais, que sempre tive a tempo inteiro são apenas pais/amigos. Uns dizem... tens sorte nos pais que tens, eu aproveitava. E eu apenas penso. Será que os estou a aproveitar da pior maneira? Sempre me pergunto e sempre tenho várias respostas. Que sim, realmente não sei dar valor aos pais que tenho, por outro lado penso também que, ao ver-me como sou e com o que tenho, não poderia deixar de ser e ficar feliz e contente, se não me relembra-se da relação que tenho com eles e eles comigo. E por outro lado, é ver o que tenho e mesmo assim, questionar-me sobre... E se não tivesse pais? Ou... E se tivessem separados? E se... Tantas perguntas que me fritam a cabeça, na tentativa de entender o porquê de outras pessoas não terem pais, ou estarem divorciados ou seja o que for... E sinto-me mal por coisas que são problema dos outros. Quando falo dos meus pais, a alguém que, ou não se dá bem com eles, ou não os tem ou tem um e não tem o outro, fico como se me tivessem a esventrar de cima a baixo e só me apetece enterrar a cabeça debaixo da areia.

Quando vejo os outros meninos, sem pais, apetece-me dar-lhes o meu por empréstimo. Não quero que mos tirem, apenas usem-nos quanto tempo precisarem, mas depois devolvam-mos. Que também preciso deles.

Mas... Sou feliz com eles.

Encantos refugiados

Continuo sem saber o sentido de palavras pioneiras.
Insistem as pessoas a revelarem-me que são as primeiras. No jardim, na rua, nas lojas, ou nas janelas entreabertas das casas, onde deixam surgir o reflexo de alguém que está de dentro. Acabo por permanecer a olhar, um carrinho de bebé e uma mãe que o olha o seu filho. Sentado ao lado, o pai que admira o esplendor e a beleza da família.
No meu olhar ainda distante, sente-se a felicidade, e o meu coração acaba por sentir a emoção de um desejo, de um vago sonho.
Pergunto-me no decorrer dos dias, como podem duas pessoas significar tanto nas nossas vidas, nos construírem enquanto pessoas. Não sei se devo agradecer pelo que nunca tive, ou se devo agradecer pelo que sempre sonhei ter.
Um pai alcoólico, descoberto mais tarde como incógnito. Uma mãe que me abandonou e uma simples razão que falhou. Qual é o sentir de criar seres dentro de nós, para esquecermos que eles existem mesmo quando os suportamos com as nossas próprias mãos?
Nunca fui mãe. Ainda sou muito nova, mas sou filha de dois seres que me viram crescer, e pelos quais me pergunto se fez de certa forma alguma diferença.
Nas minhas memórias vivas, em tudo o que faço e no que permanece em cada passo que dou, lembro cada um dos que ficou para trás. Mas apercebo-me, será que segui em frente?Não.
Continuei agarrada a um passado que não me elevou mas me rebaixou. Saudades de dizer "Mãe" e "Pai", talvez pela mera certeza das duas existências e presenças ainda comigo.
Vivi 16 anos, e hoje revelo-me algo que não sou e não tenho capacidade de caracterizar. Sinto-me filha da sorte, por esta de facto nunca me ter abandonado e me ter permitido fazer as escolhas a meu ver, mais certas.
Cresci, levantei-me sob os meus erros, e por vezes inseguranças mas com esperanças de que um amanhã pudesse ser diferente do hoje que eu observava, ainda que na pura crueldade me fizesse sofrer.
Sinto que os meus pais entregaram-me ao vento, possivelmente para que ele me transportasse para tão longe quanto a ilusão voa. E se hoje sou filha do vento, renasci nas cinzas do meu ser que os meus pais queimaram outrora.
Gostava de ser tanta coisa, gostava de ser diferente talvez. Porque nunca tive nenhum pai ou mãe que me pudesse dizer "orgulho-me de como podes ser tão especial". Nunca tive, e nos sonhos onde surgem, são ilusões criadas a partir de desejos encantados de crenças que se tornam já esgotadas.
Qual será o agradecimento? O sentido? Porquê o valor do peso?
Que têm em nós a surgir a todo o instante e momento. Temo me dispersar sem forças no que todos chamam de "tempo", pelas simples dúvidas que surgiram como perguntas, e as respostas surgiam sempre nas vozes daqueles que nós dizemos "Os que mais nos amam". E é nesse momento, que sorriu e digo "O vento aceitou-me, é o melhor pai e mãe que poderei ter."

Patrícia Vieira